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O sangue recorda.
O turbilhão de nuvens negras
contra os olhos.
O remoinho de ramos e folhas
que se abeiravam da roda traseira
da bicicleta.
O peso da lama no guiador.
Os primeiros relâmpagos
que precedem o ribombar da tempestade
no cimo dos pinheiros.
O estrépito das pedras a rolar,
encosta abaixo.
A sombra violeta das sebes
inclinadas, onde fulgia uma colérica
chuva.
A lividez da campainha
quando os dedos a tocavam.
O voo em círculos da ave nocturna
no caminho esburacado.
Tudo isso porque foste embora.
Jorge Gomes Miranda
Requiem
(Fotografia de Henri Cartier-Bresson)